Ciência & Cultura Cast

Mauricio Domene

Podcast da revista Ciência & Cultura, da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Entrevistas e bate-papos com especialistas em temas de ciência, cultura e suas inúmeras conexões com nossas vidas. Números mensais em publicações temáticas trimestrais. Cada episódio, muitas descobertas. read less
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Aziz Ab’Sáber e o planejamento ambiental
Apr 22 2024
Aziz Ab’Sáber e o planejamento ambiental
Geógrafo defendia que planejar era fundamental para a preservação do meio ambiente e a saúde da sociedade No cenário contemporâneo, onde as pressões sobre os recursos naturais são cada vez mais intensas, a preservação do meio ambiente é uma questão de sobrevivência, não apenas para as espécies que habitam o planeta, mas também para a própria humanidade. Aziz Ab’Sáber, renomado geógrafo brasileiro, compreendeu profundamente essa necessidade. E também afirmava que, para tanto, planejar era fundamental. Para Ab’Sáber, o planejamento ambiental não era apenas uma questão técnica, mas também ética. Ele destacava a importância de considerar as interações complexas entre os seres humanos e o ambiente que os cerca. “O planejamento tem que ser outro”, afirma Cláudio Antônio di Mauro, professor aposentado e ex-diretor do Instituto de Geografia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). “Tem que levar em conta os componentes da natureza, a quantidade de precipitação pluvial, a necessidade de estabelecer áreas que não podem ser ocupadas por construções, que precisam estar reservadas para acúmulo de água. Além disso, os rios não podem ser utilizados da maneira como são em suas margens, impermeabilizando tudo. Isso tem trazido gravíssimas consequências para os lugares onde a sociedade vive”, pontua. Aziz Ab’Sáber alertava para os efeitos devastadores da degradação ambiental nas cidades: poluição do ar, escassez de água, perda de biodiversidade, entre outros. Ele defendia que a preservação dos ecossistemas naturais não era apenas uma escolha, mas uma necessidade para garantir a qualidade de vida das pessoas nas áreas urbanas. A influência de Aziz Ab’Sáber nas políticas públicas para a preservação do meio ambiente no Brasil é inegável. Sua visão abrangente e suas pesquisas embasaram diversas iniciativas governamentais voltadas para a conservação dos recursos naturais. Ab’Sáber defendia a importância de uma gestão ambiental participativa, que envolvesse a sociedade civil, os governos e as empresas. Ele destacava a necessidade de uma abordagem integrada, que considerasse não apenas as questões ambientais, mas também as dimensões sociais e econômicas. “Ele mostrou que os componentes da natureza tinham que ser entendidos na sua integralidade”, explica Cláudio di Mauro. “Se a ciência não levar em conta o interesse daquele homem ribeirinho, que está na beira do rio, que sofre todo ano com transbordamento, e das outras comunidades que vivenciam isso, se eles não forem chamados para participar, nós corremos o risco de ter uma relação que não é saudável na construção do planejamento”, finaliza.
A Física brasileira após Cesar Lattes
Mar 15 2024
A Física brasileira após Cesar Lattes
Cientista contribuiu com avanços notáveis para a ciência no Brasil  César Lattes é uma figura icônica na história da física brasileira, conhecido por suas descobertas revolucionárias e contribuições inestimáveis para a ciência. Sua pesquisa pioneira sobre partículas subatômicas, culminando na identificação do méson pi, não apenas expandiu os horizontes da física nuclear, mas também colocou o Brasil no mapa da pesquisa científica global. Uma das contribuições mais marcantes de Lattes para a comunidade científica foi sua descoberta do méson pi, uma partícula fundamental para a compreensão das forças nucleares. Mesmo sem receber o Prêmio Nobel de Física, para o qual foi indicado sete vezes, Lattes continuou incansavelmente seus estudos. Em seus experimentos no Monte Chacaltaya, na Bolívia, confirmou suas teorias e identificou o méson pi, uma partícula crucial para a compreensão da física nuclear pós-guerra. Suas descobertas não apenas avançaram o conhecimento científico, mas também inspiraram uma nova geração de cientistas no Brasil. “Não é possível pensar a ciência no Brasil sem o Lattes”, afirma Antonio Augusto Videira Passos, professor do Departamento de Filosofia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Para o pesquisador, Cesar Lattes não apenas ajudou a apontar novos caminhos para a física de partículas, mas também contribuiu significativamente para ao avanço da ciência nacional. Após suas experiências no exterior, em 1949, Lattes retornou ao Brasil. Reconhecido como um dos maiores cientistas brasileiros, Lattes desempenhou um papel crucial na fundação do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Sua dedicação incansável à busca do conhecimento e sua coragem em explorar novos horizontes fizeram dele um ícone da ciência brasileira e um exemplo vivo do potencial científico do país. “Fazer ciência é ter ousadia, é ter curiosidade, é gostar do caminho que se está percorrendo. A pessoa que quer se dedicar à ciência tem que ter a mente aberta e estar sempre preparada para corrigir sua rota. E o Lattes era assim”, finaliza Antonio Videira.
Cesar Lattes e os institutos de ciência
Mar 6 2024
Cesar Lattes e os institutos de ciência
Cientista contribuiu para a fundação do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico César Lattes é um os cientistas brasileiros mais renomados. Sua trajetória demonstra não apenas um comprometimento com a ciência, mas também com o desenvolvimento científico do Brasil. O físico tornou-se conhecido por descobrir a partícula subatômica méson pi (píon). Seu trabalho acabou recebendo o Prêmio Nobel de Física — mas ele ficou de fora da premiação, gerando uma controvérsia que perdura até hoje. Aliás, ele foi indicado sete vezes ao prêmio, sem nunca ser agraciado.Para além de suas descobertas científicas, Cesar Lattes foi fundamental para a consolidação da física no país e para a criação de vários institutos e centros de pesquisas. Um deles foi o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), que ajudou a fundar em 1949. A criação do CBPF não foi apenas um ato de pioneirismo científico: foi também um movimento estratégico para consolidar o desenvolvimento da ciência no Brasil. O CBPF foi, portanto, mais do que um espaço de estudo. Foi uma resposta à necessidade de investimentos fora do ambiente universitário tradicional. “O Cesar Lattes utilizou seu imenso capital científico para contribuir para a institucionalização e o avanço da ciência brasileira”, aponta Ana Maria Ribeiro de Andrade, pesquisadora titular aposentada do Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST) e autora de obras como “Físicos, Mésons e Política: a dinâmica da ciência na sociedade” (Hucitec, 1999). Além do CBPF, Lattes foi um dos fundadores de instituições que moldaram a ciência brasileira, como a Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), uma entidade ligada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações para incentivo à pesquisa no Brasil. Ainda contribuiu para a consolidação do Centro Nacional de Energia Nuclear (1968); e do Instituto de Física que recebe o nome de seu fundador, Gleb Wataglin, na Unicamp. “A importância de Lattes para a ciência no Brasil vai além do méson pi. Ele deixou um imenso legado, que persiste até hoje”, finaliza Ana Maria Ribeiro.
Cooperação científica na América Latina
Oct 10 2023
Cooperação científica na América Latina
União entre países latinos pode fortalecer a ciência global Na América Latina, a cooperação científica e tecnológica entre países da região desempenha um papel crucial no desenvolvimento e progresso científico. No entanto, essa colaboração enfrenta desafios significativos, especialmente quando comparada com os países do Norte Global, que muitas vezes têm vantagens estruturais e de tradição. Um dos principais desafios é o desequilíbrio de recursos e capacidades. Países do Norte Global muitas vezes possuem investimentos substanciais em pesquisa e desenvolvimento, infraestrutura de ponta e recursos humanos altamente qualificados. Isso cria uma disparidade significativa em relação aos países da América Latina, que podem enfrentar limitações orçamentárias e falta de infraestrutura moderna. Para Tiago Braga, diretor do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia, onde atua também como líder do Laboratório de Informação e Sociedade, é preciso repensar a avaliação da ciência em nível mundial. “Precisamos pensar como essa ciência feita no Sul Global pode ser valorizada e pode ser considerada relevante a partir de outros mecanismos que não os tradicionais, porque se continuarmos nos mecanismos tradicionais, quem já está na frente, que tem uma estrutura pronta, sempre vai ter uma vantagem”. Outro desafio é a falta de coordenação e estratégia regional. A colaboração científica e tecnológica pode ser mais eficaz quando há uma abordagem regional unificada. No entanto, a América Latina muitas vezes carece de mecanismos eficazes de coordenação e estratégia, o que pode dificultar a maximização dos benefícios da cooperação. “Um dos principais desafios que temos que enfrentar é a construção de redes – e o Brasil tem um papel muito importante nisso, porque ele é um grande país produtor de ciência no Sul Global”, afirma Tiago Braga. “Esses conhecimentos devem ser disponibilizados numa rede que tenha visibilidade internacional capaz de permitir que as pesquisas e os conteúdos criados a partir dos investimentos nacionais possam ser disponibilizados e acessados em outras estruturas internacionais”. Apesar desses desafios, a cooperação científica e tecnológica entre países da América Latina continua sendo essencial para enfrentar os desafios globais, impulsionar o desenvolvimento econômico e melhorar a qualidade de vida das populações da região. Superar esses obstáculos exigirá um compromisso contínuo com a colaboração regional, investimentos em infraestrutura e recursos humanos, além de estratégias de financiamento inovadoras para impulsionar a pesquisa e a inovação na América Latina. “Precisamos fazer um movimento de abertura da pesquisa de abertura dos processos científicos que são só nossos. “Para a gente fazer esse movimento de abertura, também precisamos fazer esse movimento paralelo que é de fortalecimento das estruturas informacionais nacionais. A ciência aberta tem que vir necessariamente atrelada a um investido em infraestrutura para pesquisa”, defende Tiago Braga.
Papel global da América Latina
Sep 27 2023
Papel global da América Latina
Região tem papel fundamental em questões urgentes no cenário mundialO cenário atual é crítico, com desafios globais interconectados, incluindo crises econômicas, energéticas e migratórias. Tais desafios demandam abordagens complexas e multilaterais. A América Latina enfrenta desafios e oportunidades únicas em um mundo em constante transformação.Neste contexto, é crucial que os governos da região desenvolvam uma agenda conjunta que vá além da lógica bipolar e promova o multilateralismo. O diálogo intra-regional deve ser fortalecido, e cúpulas de presidentes, após um hiato de sete anos, precisam ser retomadas. Além disso, é necessário repensar os acordos de integração, transformando-os em instrumentos de interdependência econômica e geopolítica, em vez de meros acordos comerciais. “A integração mostra um novo tipo de potência desses países, a capacidade de negociar conjuntamente sobre uma série de aspectos – desde a democracia na construção de políticas que sejam mais inclusivas até as decisões econômicas”, pontua Edna Castro, professora emérita da Universidade Federal do Pará (UFP) e recentemente eleita presidente da Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS).A América Latina possui um potencial significativo na agenda climática e energética, tornando-se um aliado-chave para a União Europeia e outros parceiros globais. Com metade da biodiversidade mundial, 33% da energia proveniente de fontes renováveis e vastas reservas de minerais essenciais para a transição ecológica, a região pode desempenhar um papel crucial na transição global para uma economia mais sustentável. “Nós não podemos nos furtar de debater as emergências climáticas que estão ocorrendo no mundo inteiro. Nós estamos convivendo com esses desastres, que serão cada vez mais intensos e mais próximos. E a integração latino-americana passa necessariamente em como integrar sem destruir”, enfatiza a pesquisadora.A recente cúpula entre a Celac e a União Europeia expôs o papel da América Latina no cenário político global. Para Edna Castro, em meio a desafios globais complexos, a América Latina tem a chance de se posicionar como um ator-chave na arena internacional, promovendo a cooperação e ajudando a moldar um mundo mais sustentável e equitativo. É crucial que a região aproveite essas oportunidades e construa alianças estratégicas para enfrentar os desafios do século XXI. “Se vamos falar de integração, temos que pensar na integração de países que são cidadãos, que lidam com a diversidade e com os dilemas – e o dilema é a população dessa região não poder viver a plenitude de suas vidas”, finaliza.
Consolidação democrática na América Latina
Sep 20 2023
Consolidação democrática na América Latina
Episódios recentes demonstram a fragilidades dos regimes democráticos na região Avanço da extrema-direita, aumento de regimes autoritários, enfraquecimento dos regimes democráticos. A democracia na América Latina está sob forte risco. O tema é discutido no último episódio do Ciência & Cultura Cast, o podcast da revista Ciência & Cultura, que nesta edição trata do tema “América Latina: Integração e Democracia”. Nos últimos anos, a América Latina testemunhou avanços promissores e preocupações crescentes no seu cenário democrático. Embora a região tenha uma rica história de luta pela governação democrática, hoje enfrenta vários desafios. Um dos principais riscos para a democracia na América Latina reside na fragilidade das instituições. Muitos países da região enfrentam problemas de corrupção, falta de transparência e um Estado de direito fraco, que minam a confiança do público no processo democrático. Essas questões são frequentemente agravadas por disparidades econômicas, agitação social e prevalência do crime organizado, criando um ambiente volátil que testa a resistência dos sistemas democráticos. “Isso deixa claro as fragilidades que nossas democracias, inclusive a brasileira, demonstraram ao longo dessas duas, três décadas de vigência entre o fim dos regimes militares e esse período mais recentemente”, pontua Clayton Mendonça Cunha Filho, professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará (UFC) e pesquisador-associado do Observatório Político Sul-Americano (IESP-UERJ). Para o pesquisador, esse cenário contribuiu para a ascensão de líderes alinhados à extrema-direita em toda a América Latina, levantou questões sobre a resiliência das normas democráticas. Alguns líderes foram acusados de minar as instituições democráticas e de concentrar o poder no poder executivo, o que pode levar à erosão dos pesos e contrapesos. Além disso, o clima político polarizado em muitos países tem dificultado o diálogo construtivo e a cooperação entre as diferentes facções, desafiando ainda mais a estabilidade da governação democrática. “A incapacidade desses regimes darem uma reposta eficiente aos problemas gerais da população – geração de emprego, crescimento econômico, educação de qualidade, distribuição de renda - contribuiu para o atual fortalecimento da extrema-direita. Ao não conseguir responder aos grandes problemas da população, dão a esse tipo de ator e deixam as democracias frágeis”, explica Clayton Mendonça. À medida que a América Latina enfrenta esses riscos multifacetados, o futuro da democracia na região depende do fortalecimento das instituições, da promoção da participação política inclusiva e da abordagem das disparidades socioeconômicas que continuam a alimentar o descontentamento entre as suas diversas populações. “É preciso também ter maior cuidado com a memória, com a educação cívica para as pessoas saberem se verdade o que foram essas ditaduras. Em Santiago, no Chile, por exemplo, você tem o Museu da Memória e dos Direitos Humanos, que é um grande memorial do que foi a ditadura. Assim, é possível conhecer o que foram aqueles abusos aos direitos humanos na prática”.
Contribuições da ciência básica para a saúde
Aug 3 2023
Contribuições da ciência básica para a saúde
Ciência e tecnologia são fundamentais para a saúde e o bem-estar da população Inovações em tratamentos para prevenção e cura de doenças, redução da mortalidade, aumento do bem-estar e da longevidade. Esses são apenas alguns exemplos de como as ciências podem contribuir para a saúde. O tema é discutido no último episódio do Ciência & Cultura Cast, o podcast da revista Ciência & Cultura, que nesta edição trata do tema “Ciência básica para o desenvolvimento sustentável”. A pandemia da covid-19 trouxe de volta a discussão sobre a importância da ciência e seus benefícios para a população e a sociedade. Foi graças à pesquisa científica que foi possível sequenciar o coronavírus, compreender os sintomas e sequelas da doença, e avançar nas tecnologias para a produção de vacinas. “Na verdade, a ciência foi nossa trincheira. E não foram só as ciências básicas da saúde que se uniram e tentaram ter iniciativas contrárias ao desastre que foi a resposta brasileira à pandemia, mas também pessoas de outras áreas que apoiaram muito esse processo de enorme resistência”, aponta a médica Lígia Bahia, professora do Núcleo de Estudos de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Por outro lado, a veiculação e compartilhamento de informações falsas por meio de redes sociais, blogs, sites ou aplicativos de mensagens, trouxeram consequências sérias à saúde individual e coletiva. Durante a pandemia, foram várias as fake news que apoiavam tratamentos ineficazes, ao mesmo tempo em que atacavam o isolamento e as vacinas. Até hoje algumas dessas informações falsas persistem, e são um dos fatores que contribuíram para a queda na taxa vacinal contra várias doenças em todo o país. Além disso, a desigualdade é um fator complicador no acesso à saúde e no cuidado da população. Sete em cada dez brasileiros usam o Sistema Único de Saúde (SUS), e o país ainda acumula uma carência com cerca de 30 milhões de pessoas sem acesso à saúde, de acordo com dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Instituto Brasileira de Geografia e Estatística (IBGE). “O que mata é a desigualdade. É fundamental que todo mundo que milita na área da saúde tenha essa compreensão: precisamos reduzir as desigualdades no Brasil”. O investimento em educação e ciência é fundamental para combater a desinformação e avançar em estudos que contribuam para a saúde e o bem-estar da população. Para Lígia Bahia, a ciência precisa ser transversal nas políticas do País. “A gente espera ter políticas de estado e não politica de governo. Assim a gente fica a mercê de um sistema de saúde muito cruel, onde quem tem mais continua recebendo mais. A gente precisa ir mudando isso”, finaliza.
Cidades sustentáveis
Jul 7 2023
Cidades sustentáveis
Cidades sustentáveis Mudar o modelo atual de urbanização é fundamental para evitar o esgotamento dos recursos naturais e conter a crise climática Atualmente, 55% da população mundial vive em áreas urbanas e esse número deve crescer para 68% até 2050. Os dados são do “Relatório Mundial das Cidades 2022”, publicado pela ONU-Habitat. Por isso, se torna cada vez mais necessário pensar em modelos sustentáveis para as cidades. Esse é o tema discutido no último episódio do Ciência & Cultura Cast, o podcast da revista Ciência & Cultura, que nesta edição trata do tema “Ciência básica para o desenvolvimento sustentável”. A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, aprovada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2015, aponta que as cidades sustentáveis são fundamentais para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). O foco principal é reordenar o funcionamento dos centros urbanos para evitar o esgotamento dos recursos naturais e conter a crise climática. Para isso, as políticas públicas devem contemplar as áreas da educação, trabalho, saúde, lazer, assistência social, meio ambiente, cultura, moradia e transporte. Para Raiza Gomes Fraga, assessora técnica no Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), falar de meio ambiente e biodiversidade não pode excluir outros grandes desafios brasileiros. “A redução da pobreza e das desigualdades, a garantia da segurança alimentar e o acesso à educação e saúde são alguns dos temas prioritários do nosso país”, afirma a pesquisadora. Uma cidade sustentável deve conciliar todas essas questões. Os dados da ONU apontam que o modelo atual não irá suportar o adensamento populacional previsto para as próximas décadas se não houver uma mudança significativa no funcionamento das cidades. Por outro lado, também indica que as cidades podem ser lugares mais equitativos, ecológicos e baseados no conhecimento. E para isso a ciência é imprescindível. “Nós temos instrumentos de planejamento urbano que permitem que as cidades se alinhem com os objetivos de desenvolvimento sustentável”, aponta Fraga, que também atua no Observatório de Inovação para Cidades Sustentáveis (OICS). Ela cita os planos de mobilidade e de saneamento, que são grandes planos para direcionar as cidades a pensar melhores formas de conviver com seu espaço e com as pessoas. “O único caminho que temos é o caminho da sustentabilidade”, enfatiza.
Ciência e segurança alimentar
Jun 9 2023
Ciência e segurança alimentar
Ciência e segurança alimentarBrasil sabe como debelar a fome – e ciência é fundamental para alcançar essa meta Hoje, mais de 33 milhões de pessoas não têm o que comer diariamente no Brasil, segundo dados da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (REDE PENSSAN). O número é quase o dobro do estimado em 2020 e representa 14 milhões de pessoas a mais passando fome no país. Nesse cenário, a ciência é fundamental para oferecer soluções – tanto sociais, como econômicas e até mesmo de produção. Esse é o tema discutido no último episódio do Ciência & Cultura Cast, o podcast da revista Ciência & Cultura, que nesta edição trata do tema “Ciência básica para o desenvolvimento sustentável”.Apesar da pandemia ter contribuído significativamente para essa elevada alta que colocou o Brasil de volta ao Mapa da Fome da Organização das Nações Unidas (ONU) – de onde havia saído em 2014 – a fome não é consequência da covid-19. Segundo a economista Nathalie Beghin, integrante do colegiado de Gestão do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), a pandemia de covid-19 impactou e acirrou a situação de pobreza e fome, mas crise que vivemos é anterior a ela. Para a pesquisadora, os impactos do desmonte das políticas de segurança alimentar e nutricional são agravados pelos efeitos da forma de produzir e consumir alimentos no Brasil que apresentam graves consequências na saúde das pessoas, no meio ambiente e nas mudanças climáticas. “Precisamos mudar muito a forma como produzimos e consumimos alimento, porque o modelo atual – que é um modelo baseado na exportação de commodities – é um modelo que adoece a população. Ele contribui para aumentar o desmatamento, para expulsar do campo o agricultor familiar, que é quem produz o alimento básico, para desvirtuar hábitos alimentares culturalmente enraizados”, afirma.Por outro lado, a boa notícia é que sabemos como fazer para enfrentar esta questão. “Conseguiremos sair com uma certa velocidade dessa situação porque a gente já sabe como fazer”, aponta Beghin. Segundo a pesquisadora, a fome é um problema multicausal decorrente da insuficiência de renda, da dificuldade de acessar alimentos de qualidade e em quantidades suficientes, e, de processos discriminatórios, como o racismo e o patriarcado, que penalizam mulheres, pessoas negras, povos indígenas, comunidades tradicionais e quilombolas, entre outras causas. Assim, o enfrentamento da insegurança alimentar e nutricional requer uma abordagem sistêmica e multissetorial. “As instituições estão sendo reorganizadas e reestruturadas a partir de uma experiência que a gente já teve. Agora precisamos aperfeiçoar”, finaliza.
Saúde mental na era digital
Apr 17 2023
Saúde mental na era digital
Excesso de informação e consumo ilimitado de mídias sociais pode afetar a saúde mental de crianças e adultos A maior parte do mundo está conectada à Internet – todos os dias, o dia todo. Não é mais possível imaginar nossa vida desconectada ou desprovida de smartphones, tablets, computadores, mídias sociais, apps... Mas com um amplo acesso também vem uma ampla quantidade de informações – algumas boas, outras nem tanto. E esse excesso de informação – a chamada “infodemia” – combinado à falta de mecanismos efetivos de controle de qualidade e acesso colocam em risco a saúde mental dos usuários.Nos últimos anos, o uso excessivo de tecnologias e redes sociais tem sido diretamente associado a um aumento no caso de doenças mentais como depressão, ansiedade e estresse. Um dos efeitos mais óbvios da era digital na saúde mental é a ascensão das mídias sociais. Essas plataformas permitem a conexão com pessoas de todo o mundo, mas também podem levar a sentimentos de solidão e isolamento. “Essa interação excessiva com o universo online vem trazendo algumas mudanças na nossa forma de relacionar com outras pessoas e com o desenvolvimento da própria pessoa”, explica Nara Helena Lopes Pereira da Silva, professora de psicologia online no programa de pós-graduação do Instituto de Psicologia da USP. Para a pesquisadora, essas mudanças têm agravado ou provocado vários quadros de problemas mentais – e afetam inclusive a socialização, impactando aspectos como empatia, tolerância e aceitação.Mas há também o outro lado, em que essas tecnologias podem ser aliadas da saúde mental. Isso porque podem ser utilizadas para conscientizar sobre problemas como ansiedade e depressão, criar grupos de discussão e de apoio, ou através da telemedicina. Silva explica que a tecnologia pode ser benéfica, se usada com moderação e cautela. Mas, para tanto, é preciso haver um “letramento digital”, em que as pessoas aprendam a utilizar essas tecnologias da melhor maneira. “É preciso fazer um tratamento preventivo através dessa educação, preparando melhor as pessoas a lidar com essa realidade e essa tecnologias”.
História das universidades brasileiras na pandemia e na resistência
Apr 5 2023
História das universidades brasileiras na pandemia e na resistência
Universidades tiveram papel central no enfrentamento da pandemia da covid-19 e na defesa da ciência e da democracia As universidades ficaram na linha de frente no combate da pandemia da covid-19. Em um contexto de desorganização sistêmica por parte do governo, elas cumpriram sua missão de gerar conhecimento e servir à sociedade, fornecendo atendimento na área de saúde, aconselhamento jurídico, soluções tecnológicas, sessões de terapia, informações necessárias e outros serviços para a população. “A universidade gera recursos humanos para você produzir soluções para o país. A universidade viu que tem que agir não só pelo índice H de produtividade, mas com interesse público e voltada para a solução de problemas”, afirma Paulo Saldiva, médico patologista e professor da Faculdade de Medicina da USP. Hoje, em um período em que as medidas preventivas da pandemia começam a relaxar e o clima é de “o pior já passou”, fica claro o papel estratégico das universidades e seus profissionais e estudantes nessa jornada. Porém, o cenário de ataques sistemáticos à ciência, à pesquisa e à própria democracia ainda se mantém como um grande obstáculo a ser enfrentado – e a universidade permanece como um importante espaço de resistência. “Foi a tempestade perfeita. Mas a importância do diálogo com a comunidade, as soluções que apareceram na ausência total de políticas, e a vontade de fazer o certo deu forças para que a universidade sobrevivesse e resistisse”, aponta Saldiva.
Fuga de cérebros: como o Brasil pode reter seus talentos?
Mar 16 2023
Fuga de cérebros: como o Brasil pode reter seus talentos?
Evasão de cientistas brasileiros se agravou nos últimos anos. Como reverter esse quadro? Falta de oportunidades, desvalorização profissional, cortes orçamentários... São vários os desafios enfrentados pelos cientistas brasileiros. Com um cenário agravado pela pandemia de covid-19 e um crescente negacionismo científico, cada vez mais pesquisadores acabaram deixando o país em busca de melhores oportunidades no exterior. O fenômeno, conhecido como fuga de cérebros, não é recente, mas tem se agravado nos últimos anos. A perda desses talentos traz consequência para todo o Brasil. Afinal, trata-se de profissionais altamente qualificados que poderiam contribuir para o desenvolvimento social, econômico e científico do país. Mas o que fazer para reter esses talentos? É possível trazer esses profissionais de volta? O que o Brasil precisa fazer agora para evitar que o problema da evasão de cérebros se agrave nos próximos anos? Para discutir essas e outras questões, convidamos os professores Débora Foguel, do Instituto de Bioquímica Médica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenadora de Educação da Rede Nacional de Ciência para Educação (Rede CpE); Elizabeth Balbachevsky, do Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo (USP) e vice-coordenadora do Núcleo de Pesquisa sobre Políticas Públicas (NUPPs/USP); e Olival Freire Júnior, do Instituto de Física da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e novo diretor Científico do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
O jovem cientista brasileiro
Dec 1 2022
O jovem cientista brasileiro
A vida do jovem cientista no Brasil é atraente?Corte de bolsas, poucas oportunidades, muito trabalho. Afinal, a vida do jovem cientista no Brasil vale a pena? Para falar dos desafios da carreira científica, em suas diversas áreas, o Ciência & Cultura Cast conversou com três pesquisadores engajados no tema: Sofia Daher, assessora técnica e analista de Ciência e Tecnologia, do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE); Jaqueline Mesquita, professora do Departamento de Matemática da Universidade de Brasília (UnB); e Vinícius Soares, presidente da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG), gestão 2022-2024.Desde 1996, o CGEE estuda a formação de mestres e doutores e sua empregabilidade. Segundo Daher, com a crise que se aprofundou desde 2014 no Brasil, o número de pós-graduados sofreu uma redução, segundo dados de 2009 a 2017. Porém, ao mesmo tempo, houve um aumento na absorção pelo mercado de trabalho, ou seja, o número de pessoas empregadas cresceu e a taxa foi maior que entre pessoas sem qualificação. “Para termos dados mais claros sobre o impacto da pandemia, precisamos do levantamento de 2018 a 2022”, diz. Em sua visão, o Brasil tem hoje uma formação persistente de mestres e doutores, o que contribuiu para fortalecer o sistema que passou por vários governos. Sistema este que precisa ser revisitado e reavaliado com frequência, face à importância dos jovens cientistas para o desenvolvimento do país, conclui a pesquisadora.Para Mesquita, os desafios da carreira científica passam por ingresso, permanência, conclusão e empregabilidade. Ela lembra que há muito tempo não há reajuste nas bolsas de estudos e os concursos para carreiras acadêmico-científicas também têm atraído cada vez menos candidatos. A pesquisadora participa do estudo do Perfil dos Pesquisadores Brasileiros em Início e Meio de Carreira,  realizado pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) em parceria com a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e com o projeto Parent in Science. O objetivo deste mapeamento com mais de quatro mil entrevistados é revelar quais os desafios que o jovem cientista enfrenta, considerando as diferenças regionais, raciais e econômicas do País. O survey deve gerar subsídios para a criação de políticas públicas.Já Soares destaca uma das questões que considera mais importante neste contexto: Como atrair novos talentos, visto que a juventude não tem visto boas perspectivas na pós-graduação diante dos baixos valores das bolsas de pesquisa? “Muitas vezes a gente vai fazer a escolha de como colocar o pão na mesa”. Além dos baixos valores das bolsas, Vinícius também fala da falta de direitos trabalhistas, “apesar de já sermos profissionais”. Soma-se a isso as questões da permanência e da saúde mental. “No mundo inteiro, os pós-graduandos têm 60% mais chances de ter problemas psicológicos.” Em uma frase que já virou piada, o presidente da ANPG resume o cenário dos últimos anos para os pós-graduandos: “Tudo mudou no mundo desde 2013, até o Papa – menos as bolsas.”
Tecnologias e trabalho: Um cenário em transformação
Oct 27 2022
Tecnologias e trabalho: Um cenário em transformação
O que há de novo nas mudanças que estão acontecendo nas relações de trabalho afetadas pelas novas tecnologias?“Existe um mito de que a tecnologia é neutra. Mas ela não é”. Com esta afirmativa, o sociólogo Ricardo Antunes, professor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), dá início ao Ciência & Cultura Cast sobre a relação das tecnologias com o trabalho. Antunes é referência no campo da sociologia do Trabalho no Brasil e no exterior, tema sobre o qual já publicou diversos livros, entre eles “Uberização, trabalho digital e indústria 4.0” (2020, Editora Boitempo) e o mais recente “Capitalismo pandêmico” (2022, Boitempo).Também no debate, a psicóloga Marilene Zazula Beatriz, professora do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), falou sobre sua área de interesse, que é o trabalho em organizações sob os princípios da Economia Solidária, além da tecnologia social e a psicologia social do trabalho. A professora trabalha com uma incubadora de economia solidária na universidade. “O empreendimento autogestionário é um exemplo maravilhoso de processo tecnológico. Mas não falo de alta complexidade de tecnologia.”O cientista social Ricardo Colturato Festi, professor do Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília (UnB), participou do bate-papo trazendo os dilemas da modernização no mundo do trabalho, tema de sua tese de doutorado. Ele é autor do livro “A fábrica sem patrão” (2021, Editora Lutas Anticapital) e membro do grupo de trabalho “Mundo do trabalho e suas metamorfoses”, da Unicamp, coordenado por Ricardo Antunes. O que virá?Antunes lembra que o trabalho humano sempre dependeu da tecnologia, desde a gênese humana. “A partir do século 18 há uma mudança no modo de vida de muita profundidade, e a tecnologia se torna um instrumento vigoroso para instauração e expansão do modo de produção nascente que era o modo de produção capitalista”. Segundo o pesquisador, no período “pré-moderno”, a tecnologia passa a ter um objetivo vital inquestionável: gerar mais riqueza. “Não estamos mais na era da hegemonia do capital industrial. Hoje é o capital financeiro, e ele é destrutivo. Ele trata o trabalho como um custo. O capitalismo do nosso tempo não consegue se reproduzir sem destruir.” Para Antunes, é inaceitável dizer que um trabalhador desempregado na informalidade virou empreendedor. “Agora estamos vivendo o capitalismo pandêmico.” O pesquisador faz a provocação: “A humanidade vai ter que decidir se quer sobreviver.”
A cartografia social como passaporte de cidadania e nova forma de produção de conhecimento
Sep 2 2022
A cartografia social como passaporte de cidadania e nova forma de produção de conhecimento
Antropólogo social Alfredo Wagner Berno de Almeida discute como a ideia da nova cartografia nasce contra o monopólio dos poderes “O que é relevante de ser mapeado? Aquilo que o Estado acha que é relevante? Aquilo que o conhecimento científico refinado e erudito acha que é relevante? Ou aquilo que os próprios atingidos dizem que é relevante?”, dispara o professor e pesquisador Alfredo Wagner Berno de Almeida, coordenador do projeto Nova Cartografia Social da Amazônia. “Nós vivemos transitando nestas fronteiras do conhecimento, daí que a nova cartografia foi se erigindo enquanto uma forma de produzir conhecimento.”Antropólogo social, Almeida é professor da Universidade Federal do Maranhão (UFAM) e das universidades federal e do estado do Amazonas, além de conselheiro regional do Grupo de Trabalho dos Direitos Humanos da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Em nossa conversa do Ciência & Cultura Cast, ele fala como essa ideia da nova cartografia nasce contra o monopólio dos poderes. Antes a cartografia e a ideia de produzir mapas estava muito ligada às ciências militares, ao poder, à ação colonial e aos impérios, explica o professor. “Hoje nós estamos assistindo ao fim do monopólio destes poderes que ditavam o que os mapas deveriam ter desde o século XVI.”A cartografia social nasce no contexto de popularização dessa nova forma de produzir conhecimento. Para Almeida, é preciso nos atentarmos para novos significados e conceitos. “No caso da nova cartografia social, ela não tem muito a ver com a geografia, tão pouco com a geologia. Ela significa, nesse novo léxico, uma tentativa de produção científica, de descrição, levando em consideração novas possibilidades de entendimento de realidades localizadas e de processos reais, enfatizando a situacionalidade da produção de mapas.”O pesquisador afirma: “Quando povos originários e comunidades tradicionais produzem as suas próprias representações cartográficas, eles reafirmam suas territorialidades. Esse tipo de produção cartográfica é um passaporte para ser cidadão, porque o território acompanha a sua identidade coletiva.” O professor lembra, no entanto, que ao mesmo tempo que houve um avanço da nova cartografia, há ainda muitas terras indígenas sem mapeamento preciso, assim como terras que são objeto de reforma agrária e assentamento.  Ouça aqui na íntegra o conteúdo desta conversa.
Independência, democracia e o futuro que queremos para o país
Aug 15 2022
Independência, democracia e o futuro que queremos para o país
José Murilo de Carvalho fala do enigma brasileiro em seus 200 anos de independência “Vamos para onde? Foi isso que conseguimos em 200 anos?”, indaga o professor José Murilo de Carvalho, membro da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e único historiador brasileiro membro da Academia Brasileira de Letras (ABL). Ele é autor de livros como “Os Bestializados” e “A Formação das Almas – O imaginário da República no Brasil”, e também vencedor do prêmio Jabuti de 1991.Nesta edição do Ciência & Cultura Cast, José Murilo de Carvalho compartilha conosco a sua constante indagação sobre a democracia brasileira, que ele considera um enigma. “É um país democrático? Pela parte formal, sim. Mas como um país democrático tem 60 milhões de pobres? O mecanismo formal democrático, que é a participação, não se reproduz nas políticas públicas em relação a este povo que está votando. É um enigma brasileiro.”Referência no estudo da História do Brasil, o historiador fala também sobre a ciência desde 1822, sobre o imperador Dom Pedro II, e ainda traça um paralelo entre a Revolta da Vacina, de 1904, e a vacinação, a partir de 2021, no Brasil contra covid-19.“Na Revolta da Vacina quem insistiu em vacinar foi o governo, foi Oswaldo Cruz, um cientista”, lembra o professor. Mas havia também desinformação, boatos e uma interferência militar.  “Os ingredientes quase todos de hoje estavam presentes na época, só que embrulhados de uma maneira diferente. (...) Hoje quem está errado é o governo.” Ele acredita que o que fez a diferença hoje foi a divulgação.Ouça aqui o episódio completo.