Ciência com Impacto Podcast

Ciência Com Impacto

Uma hora de conversa. De perguntas incómodas ou de questões pertinentes. Uma hora para saciar a curiosidade. E divulgar as mais recentes descobertas científicas, que impactam as nossas vidas e a sociedade.Uma hora para conhecer os protagonistas. As suas histórias. As suas dificuldades e, acima de tudo, como alcançam os seus objectivos. Uma hora que passa num instante. Uma hora de Ciência com Impacto. read less
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Podcast T4E12: Lurdes Cristiano - Os Novos Compostos da Química Medicinal
Sep 29 2021
Podcast T4E12: Lurdes Cristiano - Os Novos Compostos da Química Medicinal
Nos últimos anos e a partir de produtos naturais, Lurdes Cristiano e a sua equipa de investigadores do CCMar – Centro de Ciências do Mar têm vindo a desenvolver novos compostos orgânicos com atividade antimicrobiana, com aplicações no combate à malária, à leishmaniose e à tuberculose. Estes compostos, sintetizados em laboratório, são depois estudados minuciosamente. É analisada a sua estrutura, reatividade, propriedades. Só depois os investigadores estão em condições de saber como os podem utilizar. E foi aqui que surgiram algumas surpresas. Lurdes Cristiano percebeu que estes compostos não serviam apenas para combater estas doenças que afetam a Humanidade, mas que tinham outras aplicações – como a aquacultura.É que o número de seres humanos na Terra continua a aumentar exponencialmente e a alimentação é um tema cada vez mais premente, a exigir soluções eficazes e rápidas. A aquacultura intensiva de peixes, moluscos e bivalves pode ser uma das soluções. Mas a aquacultura intensiva não é isenta de problemas – e um deles são as infeções parasitárias que podem comprometer toda a produção de uma exploração. A investigadora do CCMar interessou-se por este tema e rapidamente percebeu que esses parasitas são protozoários, com semelhanças aos parasitas da malária, por exemplo. E conseguiu criar soluções simples e baratas, com moléculas fáceis de sintetizar, que combatem estas infeções.Mas não se ficou por aqui.  A contaminação das aquaculturas com catiões de metais de transição também entrou no seu foco e, para a combater, já desenvolveu algumas moléculas que retiram o cobre e, recentemente, o cadmio das explorações – resolvendo um problema que, para além dos impactos na produção, também seriam um risco para a saúde pública.
Podcast T4E11: Carlos Costa - Apostar na Inovação
Sep 22 2021
Podcast T4E11: Carlos Costa - Apostar na Inovação
A Inovação e a transferência do conhecimento produzido na academia são temas que acompanham a carreira científica de Carlos Costa, professor emérito da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) e investigador do laboratório associado ALICE. Temas aos quais mantém, ainda hoje, uma forte ligação.A sua experiência como presidente do Instituto Empresarial do Tâmega, que também funciona como incubadora de startup’s, diz-lhe que o sucesso empresarial depende, em grande medida, da capacidade de inovação. Particularmente, no caso das novas empresas que vão para o mercado, essa capacidade inovadora é decisiva.De um ponto de vista tecnológico, a inovação na química pode contribuir para resolver algumas das questões mais urgentes com que a Humanidade se defronta. Para o investigador Carlos Costa, é expectável que surjam importantes desenvolvimentos e novas tecnologias para a mitigação das alterações climáticas. A captura do excesso de dióxido de carbono na atmosfera, e a sua utilização para outros fins, é disso um bom exemplo. Mas podem também surgir avanços decisivos noutras áreas, como na Saúde. A sustentabilidade e a economia circular são, atualmente, dois importantes focos da inovação. Não se trata agora de inovar por inovar, mas sim de criar conhecimento, tecnologias e produtos que possam ser usados no bem-estar da Humanidade, garantindo que deixamos às gerações vindouras um planeta mais vivo e saudável.
Podcast T4E10: Alfredo Teixeira - A Importância da Carne Saudável
Sep 15 2021
Podcast T4E10: Alfredo Teixeira - A Importância da Carne Saudável
A proteína animal é essencial para todos os animais omnívoros – humanos incluídos. É parte integrante da Natureza, e está intrinsecamente associada à História da evolução do homem. Continuará a ser decisiva no nosso Futuro – se quisermos ter uma Humanidade sem carências alimentares e saudável. Daí que a forma como esse alimento é produzido seja uma das principais preocupações de Alfredo Teixeira, investigador do CIMO – Centro de Investigação de Montanha. Genericamente, a produção de ruminantes - ovinos, caprinos e bovinos - é feita de forma extensiva. A intensificação aconteceu, principalmente, em duas espécies monogástricas: os frangos e os suínos. Mas essa industrialização da produção foi necessária para combater a carência de proteínas que o mundo enfrentou após a Segunda Guerra Mundial. Mesmo nos dias de hoje, convém lembrarmo-nos que existem duas realidades bem distintas: no conforto do hemisfério norte é fácil criticar a produção mais intensiva, mas quem habita no lado sul do planeta necessita absolutamente de carne e peixe para a sua sobrevivência. A balança de consumo de carne é assustadora e necessita urgentemente de ser equilibrada: em alguns países europeus, o consumo de carne por pessoa oscila entre os excessivos 100 e 110 quilos por ano, enquanto nos países pobres da África e da Ásia não ultrapassa os 7 a 10 quilos.Sobre o papel dos ruminantes domésticos, Alfredo Teixeira gosta de sublinhar que estes animais são autênticas máquinas biológicas, aproveitadores de recursos forrageiros que não podem ser aproveitados por mais ninguém. Ou seja, não são competidores diretos com o Homem e, pelo contrário, alimentam-se de restolhos e de outros recursos que seriam descartados como lixo. Têm, aliás, a incrível capacidade de consumir alimentos fibrosos e transformá-los em proteína microbiana. Para este investigador do CIMO, e docente no Instituto Politécnico de Bragança, é tempo de valorizarmos a produção e o consumo local. Não só pela menor – quase inexistente pegada ecológica -, mas também pela sua qualidade intrínseca.
Podcast T4E9: Ana Grenha - A Arte de Encapsular Medicamentos
Sep 8 2021
Podcast T4E9: Ana Grenha - A Arte de Encapsular Medicamentos
A forma como fazemos chegar o fármaco ao local desejado tornou-se, nas mãos da investigadora Ana Grenha, quase uma arte. Para esta cientista do CCMar e professora na Universidade do Algarve, o objetivo do seu trabalho é aumentar a eficácia da administração dos fármacos – contribuindo para uma sociedade mais saudável.Dentro das várias possibilidades do nosso organismo receber uma formulação medicamentosa, Ana Grenha privilegia a inalação. Ou seja, a administração do fármaco por via pulmonar. Daí que se tenha especializado, em termos de tecnologia farmacêutica, na encapsulação dos fármacos usando nanopartículas e micropartículas.Um dos seus projetos de investigação foi premiado, em 2020, pela Sociedade Portuguesa de Pneumologia. O projeto em causa, intitulado “Imunização por via inalatória – Uma estratégia para as doenças respiratórias”, foi considerado muito inovador e poderá dar origem a uma patente. O que Ana Grenha e a sua equipa propõem é uma administração[AG1]  direta dos antigénios para a mucosa pulmonar, através da inalação de micropartículas carregadas com esses antigénios. O objetivo é induzir uma resposta imunitária local e, simultaneamente, sistémica – melhorando potencialmente a eficácia da vacina, uma vez que a estratégia se dirige a infeções respiratórias que beneficiarão diretamente da resposta imunitária local.Num outro projeto, a investigadora desenvolveu um transportador igualmente formado por micropartículas, que contêm os fármacos usados no tratamento da tuberculose e que pode ser inalado pelos pacientes. Após a inalação, as micropartículas entram nos pulmões do doente, onde são captadas pelos macrófagos alveolares – assim libertando os fármacos no próprio local da infeção. Com esta tecnologia, Ana Grenha espera melhorar a eficácia da terapêutica, reduzir as doses e a duração do tratamento da tuberculose, bem como reduzir os efeitos secundários, o que potencia uma maior adesão dos doentes. [AG1]administração, se preferir
Podcast T4E8: José Luís Figueiredo - O Mestre da Catálise
Sep 1 2021
Podcast T4E8: José Luís Figueiredo - O Mestre da Catálise
A catálise permite acelerar a reação química e orientar o seu resultado final. Está presente em mais de 80 por cento dos processos químicos e tem um valor considerável, pois representa entre 30 a 40 por cento do PIB dos países desenvolvidos. O investigador José Luís Figueiredo, do laboratório associado ALICE, ligado à Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), é um dos grandes especialistas nacionais nesta matéria.Segundo a prestigiada revista científica Nature, a invenção mais importante do século XX foi um processo catalítico: a síntese do amoníaco a partir dos elementos azoto e hidrogénio. É que o amoníaco é a base dos adubos químicos e foi este processo catalítico que permitiu melhorar a produtividade das terras e das culturas, acompanhando o crescimento populacional.Por vezes, nem nos apercebemos como a catálise está tão presente e nos ajuda no dia-a-dia. Um bom exemplo são os automóveis a gasolina ou gasóleo. Todos eles, sem exceção, têm um catalisador no tubo de escape para limpar os gases que saem da combustão. Este é, aliás, um catalisador particularmente eficiente e complexo, porque é responsável simultaneamente por duas reações químicas opostas: oxidação e redução.O grupo de trabalho de José Luís Figueiredo tem usado a catálise com materiais de carbono modificados para fins de proteção ambiental, nomeadamente no tratamento de águas e gases. Na origem destas aplicações industriais – e de várias outras ainda experimentais – está um artigo publicado e com forte reconhecimento internacional, que já teve mais de duas mil citações. Nele, este investigador explica como modificar a química superficial do material, adequando-o à reação pretendida. As propriedades dos materiais de carbono são facilmente ajustadas ao fim pretendido. Pode-se alterar a química superficial e controlar o tipo, o tamanho e a arquitetura dos poros – o que lhes dá uma grande flexibilidade e abre o leque de aplicações. O grupo de investigação de José Luís Figueiredo começou pela catálise ambiental, com os processos de oxidação avançada, mas recentemente obteve sucesso com a ozonização foto-catalítica para eliminação de poluentes – tendo patenteado um reator que combina estes dois processos de oxidação: ozonização e foto-catálise.Por outro lado, estão a ser desenvolvidos catalisadores eficientes à base de materiais de carbono isentos de platina para a conversão de energia (células de combustível e eletrolisadores) e para a transformação da biomassa em produtos de elevado valor acrescentado.
Podcast T4E7: Helder Gomes - Valorizar os Nossos Resíduos
Aug 25 2021
Podcast T4E7: Helder Gomes - Valorizar os Nossos Resíduos
O composto que resulta da degradação dos resíduos sólidos urbanos, quer todos nós produzimos diariamente, pode ser valorizado. Para o investigador Helder Gomes, do CIMO – Centro de Investigação da Montanha, este composto não é um resíduo descartável. Pelo contrário, ele é uma mais-valia de onde pode extrair biomateriais para serem usados como adsorventes ou catalisadores em processos ambientais.Esta investigação internacional, coordenada por Helder Gomes, prevê vários tipos de valorizações para o composto – que, de outra forma, iria ser classificado como lixo e seria deixado nos aterros sanitários. A alternativa é olhar para esse produto, cada vez mais abundante, e transformá-lo em materiais de carbono que podem, de seguida, ser utilizados na remoção de contaminantes em correntes gasosas ou líquidas. Ou aproveitá-los para ajudarem na aceleração de processos de degradação de poluentes na fase líquida. No fundo, utilizar parte deste composto para tratar problemas provenientes de instalações industriais – que são mais difíceis de resolver.Estudos como este ajudam a resolver um problema crescente: o aumento exponencial de composto com origem nos resíduos sólidos urbanos. Daí a necessidade de o valorizar e de encontrar usos alternativos. O investigador do CIMO não se fica por este uso industrial. Na investigação já referida estudam-se outras aplicações – um passo essencial para criar uma economia circular na cadeia dos resíduos. O solocimento é um desses novos materiais com origem neste composto. No fundo, trata-se de construir tijolos com solo, cimento e composto para ser usado na construção civil – um material com boas características técnicas e de baixo custo. Outra das valorizações possíveis é um fertilizante líquido – que resulta do lixiviado orgânico, devidamente tratado e enriquecido com nutrientes, com aplicações na agricultura. Além destas valorizações, este composto ainda tem potencial para ser utilizado energeticamente, quer térmica, quer através da gaseificação.
PODCAST T4E6: Karim Erzini - SOS pela Ria Formosa
Aug 18 2021
PODCAST T4E6: Karim Erzini - SOS pela Ria Formosa
A Ria Formosa, um dos mais importantes berçários de peixes do País, está em perigo. Estes são os dados de um estudo de longa duração levado a cabo pelo investigador Karim Erzino, do CCMar – Centro de Ciências do Mar, ligado à Universidade do Algarve. E alguns dessas espécies mais ameaçadas são de elevado valor comercial.Ao longo dos anos, Karim e a sua equipa de investigadores identificaram 120 diferentes espécies de peixes na Ria Formosa. Destes, cerca de 40 espécies são residentes – passam toda a vida nas águas da Ria. As restantes 60 espécies usam os diferentes habitats da Formosa como berçário. Por norma, os adultos desovam no mar e, passada uma fase inicial pelágica larvar, os juvenis vêm para as estas águas calmas onde crescem e se desenvolvem - antes de regressarem ao mar aberto.  A Ria Formosa é, pois, essencial para manter os stocks selvagens de espécies com valor comercial como os sargos, as douradas ou os robalos, entre tantas outras. A má notícia, confirmada pelas amostragens e pela monitorização de Karim Erzino, é que esses números estão a decrescer. O que coloca em causa a própria sustentabilidade da pesca local. Essa diminuição de produtividade está diretamente ligada à degradação dos habitats mais sensíveis da Ria Formosa, como sejam as pradarias marinhas. As dragagens, a sobrepesca de marisco ou do isco e a intensificação das atividades lúdicas a motor, tudo contribui para o agravar da situação. E este desaparecimento - e a regressão de vastas zonas de pradarias - acabam por acentuar o declínio da biodiversidade, seja de peixes ou de crustáceos.Um outro estudo de longa duração de Karim Erzino está relacionado com o Parque Marinho Luis Saldanha, na península de Setúbal. E porque alguns dos problemas são idênticos aos identificados na Ria Formosa, este investigador pretende fomentar a recuperação de antigas zonas de pradaria marinha junto do Portinho da Arrábida, recorrendo ao transplante de ervas vindas das águas algarvias. É um processo lento e difícil, com ligeiros avanços e muito recuos. Mas que vai registando sucessos. A lição é que se torna mais fácil destruir do que construir. Um ensinamento para o futuro.
Podcast T4E5: Luís Melo - Conhecer as Comunidades de Bactérias
Aug 11 2021
Podcast T4E5: Luís Melo - Conhecer as Comunidades de Bactérias
Nas últimas décadas, o investigador Luís Melo, do laboratório colaborativo ALICE da FEUP, dedicou-se ao estudo das comunidades de bactérias, conhecidas por biofilmes. O seu objetivo é encontrar novas formas de as combater, quando necessário. Quer seja na medicina ou na indústria.Os biofilmes são películas que os microrganismos, em particular as bactérias, produzem em quase todo o tipo de superfícies. Essas películas são constituídas por polímeros produzidos e geridos pelas bactérias - que criam assim o seu próprio habitat. Nos biofilmes formam-se comunidades biológicas estruturadas e funcionais, que aqui encontram uma forma de se protegerem e de proliferarem. Formam-se, entre as diferentes comunidades de bactérias de cada biofilme, relações simbióticas que ajudam à sobrevivência em ambientes hostis.Claro que nem todos os biofilmes são nocivos. Existem alguns que são muito bons e úteis para o ser humano. Tudo depende do local onde estão. Um exemplo simples é o das bactérias que temos na pele, como o filococos epidermis. Elas são fundamentais para a nossa pele e para manter o ph equilibrado. Mas se tivermos uma ferida e elas penetrarem no sangue, então temos um problema. O mesmo sucede com as bactérias que temos na boca ou nas fossas nasais. São necessárias e importantes, mas não podem ir para as vias pulmonares. Quando o biofilme se forma no local errado e começa a causar dano, há que entrevir. Só que as bactérias estão a tornarem-se resistentes a diversos tipos de antibióticos e de biocidas. Por isso, a prevenção torna-se essencial. Em matéria industrial, para evitar surtos de legionella por exemplo, os investigadores estudam novos equipamentos, com materiais diversos, como o aço “bombardeado com iões”, de forma a minimizar a adesão das bactérias às superfícies. Outro projeto em que Luís Melo está envolvido, que se encontra na fase de piloto industrial, tenta uma metodologia diferente: para tratar água, fixa-se o biocida em pequenas partículas que, sem as abandonar, possa matar as bactérias através da chamada “morte por contato” - o que reduz as resistências bacterianas e evita a contaminação da água.Luis Melo sente-se um privilegiado. Porque está na profissão que escolheu e, graças a ela, tem a liberdade de pensar e de exprimir o que pensa. Pode estudar os temas que são do seu interesse e pode colocar, em documentos escritos, as suas teses e ideias. E isso pode parecer pouco ou banal, mas Luís Melo sabe que não o é. Como gosta de recordar, no final do século XIX, a Dinamarca tinha a mesma taxa de analfabetismo que Portugal em 1973. Este atraso estrutural e recente, deixou as suas marcas e demora décadas a resolver. E a Ciência é um dos caminhos possível – a par da Cultura e da Educação – para recuperar esse atraso.
Podcast T4E4: Ursula Gonzales Barron - Alerta pela Segurança Alimentar
Aug 4 2021
Podcast T4E4: Ursula Gonzales Barron - Alerta pela Segurança Alimentar
Foi a melhor aluna de licenciatura da sua universidade, entre mais de mil alunos finalistas. E esse feito garantiu-lhe uma bolsa de estudo e a sua passagem de Lima, no Perú, para a Irlanda – onde veio doutorar-se e iniciar a sua carreira na investigação. Atualmente, Ursula Gonzales Barron é investigadora sénior do CIMO – Centro de Estudos de Montanha e dedica-se a garantir que aquilo que comemos é seguro e tem qualidade.Conhecer o teor de gordura, de sal ou as proteínas de um alimento é essencial para ter escolhas informadas. Como também é importante saber se determinado alimento possui certas propriedades: se são antioxidantes, se facilitam a digestão, ou se baixam o colesterol, por exemplo. Mas, em última análise, esse estatuto de boa ou má qualidade, se o alimento é mais ou menos apreciado, é dado pelo reconhecimento do consumidor. E, para ter sucesso, o produtor tem de se adaptar e procurar que o alimento que produz tenha essas características que o consumidor procura e valoriza. Já o tema da segurança alimentar é essencialmente objetivo. E o consumidor, por norma, não faz as suas escolhas tendo esta questão em vista. Porque parte do princípio que todos os alimentos disponibilizados no circuito comercial são seguros. É um atributo implícito dos alimentos que estão à venda e uma responsabilidade partilhada de todos os agentes – da produção primária ao ponto de venda, passando pelo processamento e pela distribuição. Até o consumidor tem alguma responsabilidade nessa cadeia, pois a forma como conserva o alimento, após a compra, é essencial para garantir a sua segurança. A Segurança é crucial, pois os alimentos deteriorados são responsáveis pela transmissão de centenas de doenças – das mais leves, que causam pequenos incómodos, como enjoos ou vómitos, até às mais graves que podem ser mortais. Na origem destas doenças podem estar bactérias, fungos, toxinas, priões, parasitas… Daí a importância da Ciência. Investigadores como Ursula Gonzales Barron contribuem decisivamente para a Segurança dos consumidores. O seu estudo recai, essencialmente, em produtos de carne e em queijos. Por exemplo, quando falamos de salmonelas, que, entre outros males, podem causar a mortal febre tifoide, os alimentos controlados não podem apresentar vestígios destas bactérias. Num dos seus projetos mais recentes, a cientista estudou a carne de cordeiros de duas raças autóctones, criados em regime intensivo, extensivo e misto. A conclusão final foi clara: a qualidade dos produtos de carne não depende da raça do animal, como muitos defendem, mas acima de tudo da forma como eles são criados.
Podcast T4E3: Luísa Custódio - O Potencial das Plantas Halófitas
Jul 28 2021
Podcast T4E3: Luísa Custódio - O Potencial das Plantas Halófitas
Um dia, Luísa Custódio estava na praia a fazer recolha de algas. Olhou à volta e apercebeu-se que existiam ali plantas que viviam a maior parte do tempo submersas, mostrando uma grande tolerância à salinidade. A investigadora do CCMar – Centro de Ciência do Mar deixou-se levar pela curiosidade científica e começou a estudar as plantas halófitas.As plantas halófitas são comuns. Quase toda a gente ligada ao litoral sabe o que é a salicórnia ou espargo do mar, como é vulgarmente conhecida. É uma planta de folhas verdes, em forma de escamas, saborosa e nutritiva. Hoje em dia, já é cultivada e consumida crua ou cozinhada, desidratada ou triturada. Para lá do agradável sabor a mar, a salicórnia possui propriedades imuno-estimulantes, anti-inflamatórias, anti-tumorais e antidiabéticas. Mas este é só um exemplo, entre muitas espécies, de uma planta tolerante ao sal. E foram essas plantas que Luísa Custódio começou a estudar. E a cultivar. Uma prática altamente vantajosa do ponto de vista da sustentabilidade, uma vez que estas plantas podem ser regadas com água do mar – um recurso natural e abundante.O objetivo é encontrar formas de valorizar estas plantas para uso alimentar, para extração de compostos naturais para a indústria da cosmética, para uso veterinário e para a farmacêutica. As aplicações mais recentes pertencem ao projeto Green Value. Aqui, o foco são os extratos de halófitas usados como aditivos alimentares – quer na preparação de queijos e iogurtes ou na conservação de fatias de fruta fresca. Até ao momento, já foi produzido queijo de cabra com extratos de duas halófitas muito aromáticas.Antes de se dedicar à Economia Azul, Luísa Custódio teve uma importante passagem pelo Verde. No início do seu trabalho em biotecnologia, a investigadora dedicou-se à micropropagação de espécies, em particular de sobreiros e alfarrobeiras. O seu trabalho consistia em identificar os espécimes mais interessantes na produção de cortiça e alfarroba e cloná-los. Depois, essa descendência criada em laboratório, era plantada e usada no aumento da produção agrícola. Além disso, a investigadora estudou as propriedades biotecnológicas de alguns produtos obtidos a partir destas espécies. As alfarrobas, por exemplo, possuem compostos naturais com atividade antimicrobiana e quimiopreventiva – o que ser utilizado em futuras aplicações.
Podcast T4E2: Alírio Rodrigues - A Química dos Perfumes
Jul 21 2021
Podcast T4E2: Alírio Rodrigues - A Química dos Perfumes
A Engenharia de Perfumes e Aromas ocupa Alírio Rodrigues há mais de vinte anos. Apesar de afastado do ensino, este professor emérito da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto continua a investigar e a publicar. Um dos seus artigos mais recente é sobre estas matérias.Quando se misturam certos aromas com etanol, qual será o resultado final? Como se pode prever os cheiros que resultam de cada mistura? Estas foram as questões que Alírio Rodrigues começou a tentar responder. Para tal, desenvolveu – e foi aperfeiçoando ao longo dos anos – uma metodologia capaz de prever o resultado final para cada composição da mistura. E, a partir daí, ganhou escala. Ou seja, graças à engenharia química, pode-se saber qual o cheiro, qual o perfume que resultará de uma complicada mistura de aromas diferentes. Destes trabalhos de investigação resultaram, aliás, duas spin-off’s portuguesas, que têm vindo a destacar-se na indústria dos perfumes.Mas o trabalho científico de Alírio Rodrigues não se esgota nos perfumes. Dedica-se, igualmente, à biorefinaria, trabalhando com celulose e pasta de papel, com o objetivo de criar produtos de alto valor acrescentado. Neste campo começou por trabalhar com lenhina, um dos componentes da madeira. Um subproduto da pasta de papel, retirado logo no início do processo e que acaba na queima, produzindo energia. Alírio Rodrigues decidiu valorizá-lo e da lenhina conseguiu extrair vanilina – precisamente um dos aromas usados na perfumaria.
Podcast T4E1: Amílcar Teixeira - Proteger os Ecossistemas de Água Doce
Jul 14 2021
Podcast T4E1: Amílcar Teixeira - Proteger os Ecossistemas de Água Doce
Os ecossistemas aquáticos de água doce são dos habitats mais ameaçados do planeta. O engenheiro florestal Amílcar Teixeira, investigador do CIMO, tenta preservar a qualidade dos rios e ribeiras nacionais, combatendo as grandes ameaças que sobre eles pairam.O Homem está na origem dos grandes problemas que ensombram a conservação dos nossos rios e ribeiras. A qualidade da água é colocada em causa pelo excesso de poluição e pela enorme quantidade de material orgânico; a pesca excessiva tem um importante impacto predatório sobre os peixes, crustáceos e bivalves mais raros; a introdução de espécies exóticas compete ferozmente e contribui para a aniquilação das espécies autóctones. Como se isso não fosse suficiente, a construção de barragens e açudes muda a natureza das linhas de água, impede migrações e destrói habitats sensíveis.Todos estes temas estão na agenda de Amílcar Teixeira. Sediados em Montesinho, em pleno Parque Natural, este investigador e a sua equipa do CIMO – Centro de Investigação da Montanha multiplicam-se em estudos de ecologia e de gestão destas áreas vulneráveis. Uma das suas riquezas é a Biodiversidade que albergam – um património natural, que presta serviços essenciais ao planeta e à Humanidade. Um simples mexilhão de água-doce, espécie atualmente muito ameaçada, pode filtrar 50 litros de água por dia. Sem a ajuda de químicos ou de substâncias industriais. Por isso, quando os troços dos rios de montanha eram cobertos por colónias deste mexilhão, a sua água não podia ser mais pura. E este é apenas um exemplo, que se pode multiplicar por toda a frágil cadeia ecológica.Mesmo nos mais recônditos espaços de montanha, já não encontramos habitats verdadeiramente selvagens. Todos os ecossistemas sofreram alterações provocadas pela presença humana. Mas em locais como o Parque Natural de Montesinho, e em muitas outras áreas protegidas, a Natureza e o Mundo Rural podem e devem coexistir. Depende dos decisores políticos, centrais e locais, a definição de medidas que permitam a conciliação entre a conservação da Natureza e as atividades económicas, como a agricultura, a caça, a pesca e o lazer. Graças ao trabalho dos investigadores, como Amílcar Teixeira, sabemos qual a capacidade de carga desses espaços, como podem ser usufruídos de forma equilibrada e como devemos preservar o património natural que ainda guardam – e que é essencial para combatermos as alterações climáticas em curso.
Podcast T3E14: Garcia Belo - Ciência e Cultura Cruzam-se na Marinha
Jul 7 2021
Podcast T3E14: Garcia Belo - Ciência e Cultura Cruzam-se na Marinha
É uma das marinhas mais antigas do mundo. Ao longo dos séculos reuniu um espólio único de conhecimentos, uma mescla das ciências e das culturas de cada momento histórico. Hoje, no século XXI, estão empenhados em transmitir esse legado às novas gerações, reforçando a cultura marítima portuguesa. Essa é a principal missão do almirante Garcia Belo, diretor da Comissão Cultural da Marinha.Parece que o saber de cada época conflui, com naturalidade, para a Marinha. Para construir as embarcações, fazê-las flutuar e navegar em segurança até ao destino pretendido são necessários um vasto leque de conhecimentos científicos e técnicos: arquitetura, engenharia e construção naval, astronomia, matemática, cartografia, oceanografia, biologia… Estes saberes ajudaram a Marinha a desbravar novos mares, a descobrir melhores rotas, a contatar com diferentes povos e culturas. A Marinha Portuguesa tornou-se cosmopolita – e essa sua caraterística perdura até hoje.Esta herança científica e cultural não é um fardo que a Marinha carrega. Como sempre aconteceu ao longo da história, esse legado foi transformado numa missão de serviço público. As imensas coleções de materiais, as bibliotecas únicas, o acervo museológico e documental estão ao serviço das pessoas. Abertas a todos os interessados.E, atualmente, os principais polos que dependem da Comissão Cultural da Marinha - como o Aquário Vasco da Gama, a Cordoaria Nacional, o Museu de Marinha ou o Planetário de Lisboa -, estão a receber profundas transformações. Mudanças que os tornarão mais modernos, digitais e interativos, para atraírem os novos públicos e continuarem a cumprir, com sucesso, o seu desígnio: ligar os portugueses ao seu mar e aos desafios que ele enfrenta.Uma conversa a não perder.
Podcast T3E13: Paula Sobral - Oceanos Afogados em Plástico
Jun 30 2021
Podcast T3E13: Paula Sobral - Oceanos Afogados em Plástico
Nas últimas décadas, o lixo plástico – onde se incluem milhares de quilómetros de redes de pesca abandonadas – tornou-se a praga dos nossos mares. Se nada se fizer para travar este despejo contínuo de materiais altamente poluentes, em 2048, as toneladas de plásticos no oceano ultrapassarão as dos peixes. A solução para esta catástrofe passa por um aumento da regulamentação e pela consciencialização das indústrias produtoras, que têm de incorporar na sua atividade os princípios da economia circular, defende a bióloga Paula Sobral, investigadora do MARE.Este lixo plástico espalhou-se pelos vários oceanos. E já chegou aos locais mais remotos: foram encontrados objetos plásticos na Fossa das Marianas, a dez quilómetros de profundidade. Levados pelas correntes marinhas e pelos ventos, milhares de objetos de plásticos acumulam-se e formam “ilhas” – como a Grande Mancha de Lixo do Pacífico, com 1,6 milhões de quilómetros quadrados, 17 vezes o tamanho de Portugal.Os raios solares e a água atuam sobre os grandes objetos plásticos e ajudam à sua degradação. O resultado é a fragmentação e o surgimento de plásticos cada vez menores, muitas vezes inferiores a um bago de arroz. Mas não só. As microesferas contidas nos produtos esfoliantes para higiene pessoal, os flocos que resultam da degradação das tintas, são outros tantos exemplos de microplásticos que chegam até ao mar. E que por lá ficam, entrando no eterno ciclo da água, tendo sido descobertos microplásticos no gelo do Ártico e nas chuvas da Sibéria.Esses microplásticos são ingeridos por todo o tipo de animais marinhos e provocam danos em diferentes órgãos vitais, reduzem a sua fertilidade, causam a sua morte. E envenenam todos aqueles se alimentam deles. Incluindo os seres humanos, ávidos consumidores de peixes, mariscos e bivalves.No planeta são produzidos mais de 300 milhões de toneladas de plástico virgem por ano. Uma grande parte descartável e de uso único. Como explica a investigadora Paula Sobral, esses plásticos chegam às linhas de água por negligência, muitas vezes empurrados pelas chuvas, porque os lixos são abandonados em qualquer local. A nível mundial são reciclados menos de 10 por cento do plástico produzido – e em muitos países do mundo essa percentagem é muito inferior e completamente irrisória. Outra parte do lixo plástico é misturado com os resíduos indiferenciados e acaba num aterro sanitário ou numa incineradora. Mas a maior parte do plástico, fruto de uma má gestão de resíduos, acaba os seus dias a boiar na água.Uma conversa a não perder.
Podcast T3E12: Clara Grilo - Estradas Ameaçam Espécies Raras
Jun 23 2021
Podcast T3E12: Clara Grilo - Estradas Ameaçam Espécies Raras
A mortalidade de fauna selvagem nas estradas europeias pode colocar em risco a sobrevivência de algumas espécies raras e ameaçadas. A bióloga Clara Grilo, investigadora do CESAM, concluiu que podem ser mortos por atropelamento 194 milhões de aves e 29 milhões de mamíferos, todos os anos.Estas estimativas sombrias também se aplicam a Portugal. A mesma equipa de investigação, liderada pela cientista portuguesa, acredita que cerca de quatro milhões de aves e mais de 450 mil mamíferos perdem a vida nas estradas nacionais.Mas estes dados em bruto, apurados a partir de modelos matemáticos, não são suficientes para os investigadores. Agora é necessário perceber quais são as espécies mais afetadas por estas infraestruturas, que rasgam o continente, e qual o impacto que as taxas de atropelamento têm para a viabilidade das populações selvagens mais vulneráveis, como as aves de rapina e os morcegos. É possível, todavia, criar algumas medidas de mitigação. Nas autoestradas, por exemplo, são construídas as chamadas passagens para fauna – que podem ser superiores ou inferiores, neste último caso servindo de ligação entre ribeiras ou como locais de escorrência de águas. Estas passagens podem ter diferentes dimensões ou, inclusive, possuir vedações e placas que encaminham a fauna para passagens seguras. Mas ainda são necessários mais estudos que comprovem a sua real eficácia.As estradas não são a única infraestrutura cinzenta que têm forte impacto negativo na paisagem e na fauna. As barragens, os postes de alta tensão, os parques eólicos, todos contribuem para a fragmentação dos habitats. Podem cortar territórios, separar populações reprodutoras e, em último caso, aniquilar um número importante de espécimes. E, essa mortalidade com causas artificiais, pode reduzir as áreas de distribuição e levar a um aumento do risco de extinção.Uma conversa a não perder.
Podcast T3E11: Tiago Barreiro - Descodificar a Expansão do Universo
Jun 16 2021
Podcast T3E11: Tiago Barreiro - Descodificar a Expansão do Universo
O universo está em expansão acelerada - ao contrário do que se pensava nos últimos 20 anos. O investigador Tiago Barreiro, do Instituto Astrofísico e Ciências do Espaço, quer explicar o porquê dessa aceleração surpreendente. Para o fazer dedica-se ao estudo da energia escura, algo desconhecido que constitui cerca de 70 por cento do universo.Esta energia escura é ainda difícil de definir. E esse é o desafio de astrofísicos como Tiago Barreiro. Pensa-se que, nem sequer será uma matéria normal, mas uma componente mais exótica do universo – cuja constituição é, por enquanto, uma incógnita.Estudar algo que não sabemos o que é, mas cuja existência os modelos teóricos e matemáticos indicam, não é fácil. Esta incerteza permite inclusive estudar modelos em que esta energia escura interage com outras componentes do Universo.As ondas gravitacionais são mais palpáveis e são um outro campo de estudo e de interesse de Tiago Barreiro. Apesar de se conhecer a sua existência através de modelos matemáticos, as  ondas gravitacionais  foram primeiro indiretamente observadas nos anos 70. Em 2015, uma experiência na Terra conseguiu medi-las diretamente, vindas de um binário de buracos negros e isso abriu uma nova janela para a observação do universo. Uma janela que leva à criação de sirenes-padrão, permitindo medir de forma independente as distâncias físicas a que estão os vários objetos no cosmos.O LISA, em cujo projeto Tiago Barreiro está envolvido, será um novo telescópio para medir ondas gravitacionais no espaço. Irá ser composto por um conjunto de três satélites, que envolvem a colaboração da Agência Espacial Europeia e as autoridades norte-americanas. Este investigador do Instituto Astrofísico e Ciências do Espaço integra, ainda, a Missão Euclid, da Agência Espacial Europeia. Trata-se de um telescópio espacial que, durante seis anos, fará um mapeamento exaustivo do céu, recolhendo dados que possam ajudar a entender a energia escura e as propriedades da gravidade.
Podcast T3E10: José Favinha - Marinha e Ciência de Mãos Dadas
Jun 9 2021
Podcast T3E10: José Favinha - Marinha e Ciência de Mãos Dadas
É um tesouro com mais de 18 mil peças, muitas delas únicas no mundo! É um mergulho na História e na Ciência dos últimos 500 anos, tendo como protagonista o oceano. Mas é um trabalho sempre em progresso, que nunca pára. Como sublinha o comodoro José Favinha, diretor do Museu de Marinha, os avanços da Ciência, incluindo os mais recentes, têm de estar aqui representados. Porque o Presente de hoje é a História de amanhã.Essa urgência, em transmitir o legado de conhecimento que a Marinha Portuguesa é depositária, está na origem da remodelação em curso neste Museu. Em 2023, data em que se assinalam os 160 anos da instituição, tudo estará diferente: espaços expositivos ampliados e renovados, novas exposições permanentes e narrativas apelativas para os mais jovens. O objetivo mantém-se o mesmo: tornar acessível o conhecimento e o gosto pelo mar. Os conceitos científicos estão disseminados por todo o Museu de Marinha. Os Descobrimentos são um bom exemplo. Só foram possíveis graças à Ciência e à Tecnologia de ponta da sua época. Os instrumentos de navegação, como os astrolábios, foram desenvolvidos e construídos em Portugal; a cartografia era altamente precisa porque incorporava com rigor os dados fornecidos pelos navegadores; e a construção naval teve rasgos brilhantes tornados possíveis pela íntima relação dos portugueses com o mar. No grande Pavilhão das Galeotas, construído de raiz para albergar a coleção das grandes embarcações, encontram-se peças que marcaram a história de Portugal. Desde o iate real Sirius ou o bergantim real que navegou, pela última vez em 1957, com a Rainha Isabel II de Inglaterra a bordo. Mas também estão ali expostos barcos tradicionais, como o moliceiro de Aveiro, o baleeiro açoriano e o pequeno dóri – utilizado na pesca ao bacalhau nos longínquos mares do Norte. Mas a joia desta coleção talvez seja o hidroavião Santa Cruz, um dos aparelhos pilotado por Gago Coutinho na primeira travessia aérea do Atlântico Sul, ligando Lisboa ao Rio de Janeiro em 1922. Um feito só possível porque Sacadura Cabral criou um inovador método de navegação astronômica. Mais uma vez, a Marinha Portuguesa foi buscar os conhecimentos do seu tempo para fazer avançar a Ciência. Uma ligação que, na opinião de José Favinha, tem de continuar a ser transmitida a novos públicos e a novas gerações.Uma conversa a não perder.
Podcast T3E9: Ana Lillebo - O Contributo das Pradarias Marinhas
Jun 2 2021
Podcast T3E9: Ana Lillebo - O Contributo das Pradarias Marinhas
Em tempos de emergência climática, as pradarias marinhas ganharam um novo protagonismo. Grupos de investigação, como aquele que é dirigido pela bióloga Ana Lillebo, investigadora do CESAM, vieram demonstrar que estes habitats sensíveis são dos maiores produtores de oxigénio do mundo e sumidores de carbono da atmosfera. Sem eles, o planeta estaria moribundo. Um dos principais serviços que as pradarias marinhas prestam  à Vida no planeta – e por extensão, à Humanidade – é essa dupla capacidade de produzirem oxigénio e, por outro lado, sequestrarem o carbono. E são importantes porque, de um ponto de vista global, o contributo que os ecossistemas marinhos dão para a mitigação das alterações climáticas é muito superior ao dos bosques terrestres, incluindo a Amazónia e outras florestas tropicais. Para termos uma noção da sua importância, eis alguns números: 83% do carbono é retido pelos oceanos e pelos habitats costeiros - como as pradarias, os sapais e os mangais -, enquanto que as florestas e restantes habitats terrestres apenas contribuem para 17% desse sequestro.  A importância dos serviços naturais que as pradarias marinhas nos prestam, como capital natural, pode ser quantificado. Estudos recentes mostram que o valor económico de um hectare deste ecossistema pode valer mais de 25 mil euros por ano, só pelo serviço de reciclagem do azoto.Mas Ana Lillebo sabe que a importância das pradarias marinhas não se esgota aqui. Elas são berçários preciosos para várias espécies de peixes, crustáceos e bivalves – muitos de elevado valor comercial, o que contribui para o suporte da atividade piscatória. E são pontos de elevada biodiversidade, albergando espécies muito ameaçadas e emblemáticas, como os cavalos marinhos e as tartarugas – o que as tornam locais muito apreciados para o turismo de natureza. Finalmente, mas não menos importante, estes habitats, previnem a erosão costeira e funcionam como filtros naturais, depurando as águas e retirando as cargas de nutrientes em excesso.Uma conversa a não perder.
Podcast T3E8: Peixoto Queiroz - Das Índias para Cacilhas
May 26 2021
Podcast T3E8: Peixoto Queiroz - Das Índias para Cacilhas
O local de trabalho do comandante Peixoto Queiroz é único no mundo. O seu escritório está instalado no interior de uma fragata do século XIX, a última embarcação portuguesa a percorrer, à vela, a Carreira das Índias. Restaurada ao pormenor, a fragata D. Fernando II e Glória está na doca seca de Cacilhas e aberta à curiosidade do público.A fragata é histórica. Foi construída em Damão, na antiga Índia portuguesa, corria o ano de 1842. Daí foi rebocada até Goa, para ser devidamente aparelhada e armada. E, em 1845, fez-se ao oceano rumo a Lisboa. Foi uma das últimas fragatas do seu tempo, toda construída na nobre madeira de teca e navegando exclusivamente à vela. Durante os 33 anos que esteve ao serviço da Armada navegou o equivalente a cinco voltas ao mundo, viajando diversas vezes entre o Atlântico Norte e o Índico. Depois esteve fundeada no Tejo e serviu como Escola de Artilharia Naval até 1938. Nove anos depois acolheu uma obra de caridade, que dava formação a crianças órfãs e jovens desfavorecidos. Até que, em 1963, um grande incêndio destruiu quase toda a embarcação. E a fragata ali ficou, meio submersa no Tejo.Em 1992, a Marinha Portuguesa começou a pensar na sua recuperação e restauro. Aproveitando a nova Lei do Mecenato e as Comemorações dos 500 Anos do Descobrimento do Brasil, lançam mãos à obra. Reúnem-se apoios, percorrem-se arquivos antigos em busca dos planos de construção da fragata, contratam-se os melhores carpinteiros. A reconstrução da fragata D. Fernando II e Glória foi feita nos estaleiros da Ria Marine, em Aveiro, e em 1997, foi rebocada até ao Alfeite – onde recebeu a mastreação e foi musealizada. O público da Expo-98 teve o privilégio de a ver em primeira mão.Uma conversa a não perder.
Podcast T3E7: João Zilhão - O Neandertal Dentro de Nós
May 19 2021
Podcast T3E7: João Zilhão - O Neandertal Dentro de Nós
Quando o arqueólogo João Zilhão, e a sua equipa, descobriram uns fósseis humanos no Lagar Velho, perto de Leiria, estavam longe de imaginar a discussão e o debate científico que iriam provocar. Tudo porque esses registos osteológicos pertenciam a uma criança com mais de 24 mil anos, que ficou mundialmente conhecida como o Menino do Lapedo e que apresentava indícios de cruzamento entre o homem moderno e o homem de neandertal.A notícia caiu como uma bomba, quer no meio científico, quer junto da opinião pública. A tese dominante na época, sobre a extinção dos neandertais, defendia que tinham desaparecido por causa da incapacidade de se adaptarem às mudanças climáticas e, eventualmente, como consequência de contatos hostis com o homem moderno. Mas nunca por causa de uma possível miscigenação.Este investigador do ICREA tinha, na sua frente, as provas que essas teses podiam estar erradas. E, nos anos seguintes, dedicou-se a estudar diversos outros achados recentes, em diferentes partes do mundo, que mostravam que o Menino do Lapedo não era caso único. João Zilhão participou, por exemplo, nos estudos da mandíbula humana descoberta na caverna romena Pestera cu Oase – que também apresenta características mistas. Hoje sabe-se que a cultura neandertal era bastante evoluída. Possuíam linguagem, uma estrutura social idêntica a outras comunidades de caçadores-recolectores, dominavam o fogo e uma indústria lítica rudimentar, construíam abrigos, usavam adornos e possuíam rituais fúnebres. E, acredita João Zilhão, esses humanos antigos nunca se extinguiram. Misturaram-se com os homens modernos vindos de África e as suas caraterísticas físicas e culturais foram-se diluindo. Os avanços da genética, após a sequenciação do genoma humano, vieram confirmar que cada humano atuai possui entre 2 a 4 por cento de genes herdados dos neandertais. E que a Humanidade, no seu todo, ainda preserva mais de 50 por cento das características dos nossos antepassados neanderthalensis.João Zilhão tem, também uma vasta experiência na arte e cultura do Paleolítico. Esteve, desde o início, envolvido no estudo científico e na luta pela preservação das Gravuras do Côa – 17 quilómetros de arte rupestre, constituindo um dos grandes e únicos museus ao ar livre do mundo. Esse seu envolvimento, científico e cívico, culminou com a suspensão da Barragem e a criação do Parque Arqueológico do Vale do Côa, do qual foi o primeiro diretor. O reconhecimento internacional chegou pouco depois, com a classificação destas gravuras paleolíticas como Património Mundial, pela UNESCO.Uma conversa a não perder.