O episódio #41 foi com a Jaquelini @jaquelinidoula. Doula, educadora perinatal e mãe de duas crianças.
A discussão inicial foi sobre a nossa postura, enquanto militantes da humanização do parto, diante de relatos de partos online cheios de violência obstétrica sendo anunciados como parto humanizado.
Discutimos o relato de um parto divulgado recentemente no youtube, em que houve, nitidamente, diversas violências obstétricas porém, a narrativa as encobre de tal forma que dá a entender que as condutas violentas da equipe foram necessárias e respeitosas.
Muitas das atitudes desta equipe parecem ter sido realizadas sob a carapaça da “violência perfeita”, quando o(a) profissional induz a mulher a algo desnecessário/violento fazendo-a interiorizar a sugestão como se fosse seu próprio desejo ou escolha. É feito de tal forma que a mulher não percebe a perda da autonomia nem a coerção do(a) profissional. Exemplo disso são as ameaças veladas, ditas em um tom de falsa ternura à uma parturiente vulnerável, como: '"Ô Fulana, seria muito bom fazer isso, porque se não o bebezinho não vai aguentar” ou “Mãezinha, eu vou ter que fazer um piquezinho porque o coraçãozinho do seu bebê está muito fraquinho, tá bom?”
Normalizar condutas violentas é muito perigoso. E veicular nas redes sociais esses relatos de forma a parecer que são condutas humanizadas é problemático.
Nas redes falamos para um público. Nossos seguidores podem nos ver como fontes de autoridade e verdade.
Repassar casos de violência sem reconhecê-la e denunciá-la é propagar uma educação perinatal distorcida e perigosa, pois pode induzir pessoas a acreditar que aquilo é aceitável e respeitoso.
Na segunda metade do episódio, Jaquelini conta sobre a violência obstétrica sofrida nos seus dois partos.
Ela, que não sentia desejo de ser mãe, passou por um negacionismo quando descobriu sua primeira gestação, já com 22 semanas.
Até a 30° semana estava convicta de que faria uma cesárea eletiva, após ter lido uma reportagem falando do “ponto do marido’’, uma conduta violenta e desrespeitosa, adotada por alguns médicos que, ao suturar uma episiotomia, dão um ponto a mais, para deixar a vagina mais “apertada” e dar maior prazer para o marido.
Mas, depois de assistir ao “Renascimento do Parto”, firmou seu desejo de buscar por um parto natural. Então, com 36 semanas, em busca do seu parto humanizado, foi para o Rio de Janeiro, para parir na maternidade Maria Amélia. Porém, a assistência não foi como ela esperava. Fizeram um descolamento de membranas sem real indicação e com 7 cm de dilatação foi amarrada à cama, sem poder se movimentar. A sequência de violências a fez ir embora da maternidade em meio ao trabalho de parto!
Na segunda gestação, as violências obstétricas começaram mais cedo, já na assistência pré-natal.
No trabalho de parto, a caminho do hospital já sentia puxos e a cabecinha do bebê, que nasceu no estacionamento de um pronto socorro, recebendo assistência de médicos e enfermeiras dentro do carro. Quando encaminhada para o hospital, o terror das violências se deu em cascata. Jaquelini sofreu abuso psicológico, físico, verbal e institucional.
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É muito importante trazermos aqui relatos de partos violentos e desrespeitosos, como forma de alerta!
A violência obstétrica é institucionalizada e escapar dela é um grande desafio. Principalmente pela falta de opções de maternidades no Brasil com condutas respeitosas e baseadas em evidências científicas.
Precisamos nos informar e lutar pelo direito de trazer nossos filhos ao mundo com respeito e com assistência humanizada.
A Jaquilini fez da sua experiência dolorosa um ato de revolução. É uma mulher que está somando para a reconstrução desse cenário!